Análise preditiva: o que a Astrologia nos ensina?

Mapas astrais são construídos a partir das posições no espaço e tempo do momento de nascimento do indivíduo. Mapas astrais são intransigentes, não mudam. Assim, para os astrólogos e simpatizantes da astrologia, duas pessoas que tenham nascido no mesmo local, e em um mesmo dia e hora, tendem a apresentar tendências de vida influenciadas de maneira semelhante pelos astros. Ilustração de Daena Nicolau.

A astrologia é uma pseudociência que estuda os corpos celestes com a intenção de se explicar e se entender as misteriosas e complexas relações entre o universo, como um todo, e os seres humanos. Historicamente, existe uma variedade de diferentes formas de astrologia, com as primeiras evidências documentadas na antiga Mesopotâmia, em 2000 a.C., e sistemas astrológicos desenvolvidos de maneira independente na China Antiga, América Central e Índia. Esses astrólogos de tempos antigos, que normalmente também eram sacerdotes, tinham um foco mais amplo em suas análises astrológicas, já que tentavam usar as estrelas para adivinhar a vontade divina para toda humanidade. Já a astrologia moderna, no ocidente mais influenciada pelas astrologias helênicas do Século IV, se concentra majoritariamente em previsões a níveis individuais, também conhecidas aqui como horóscopos.

Sistemas astrológicos são frequentemente complexos, geradores de previsões detalhadas (o que não implica em serem corretas!). Para os antigos, quanto melhores e mais frequentes eram as observações dos céus, melhores eram as previsões. Sacerdotes babilônicos produziram uma coleção de setenta tábuas de observações dos céus, o Enuma Anu Enlil (em português, “Quanto Anu Enlil”), contendo ao todo sete mil observações astronômicas de planetas, estrelas e eventos terrestres da Babilônia antiga. Uma obra chinesa clássica, conhecida como Zi Wei Dou Shu, datada antes 1000 D.C., foi usada pelo imperador para contar sua sorte, baseada na interpretação dada por astrônomos imperiais de acordo com 28 constelações chinesas. Podemos considerar essas coleções de dados de observações estelares como pontapés iniciais para a astronomia moderna.

Tábua 5 do Enuma Anu Enlil, com observações dos céus em escrita cuneiforme (por Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque).

A astrologia é um sistema ímpar entre os sistemas preditivos antigos, e que apesar de suas entradas (as observações) serem baseadas em sistemas determinísticos (a posição de corpos celestes), a interpretação desses sistemas é majoritariamente humana. A maior parte dos sistemas preditivos antigos se baseavam na ideia de entradas propositalmente randomizadas (como jogar dados), ou naqueles que ocorrem de maneira aleatória na natureza (como augúrio - voo dos pássaros). Praticamente desde o início da história documentada, é notório que as pessoas percebiam que a posição dos astros tinha um ritmo não aleatório. Com certa facilidade poderia se determinar onde determinado corpo celeste estaria com relação ao observador, ou, com relação a outros astros e constelações.

Modernamente, mapas astrais representam a posição centralizada do indivíduo na terra, com relação aos demais planetas e estrelas. Eles representam graficamente a existência de relações entre as posições desses corpos astrais, cujos movimentos afetariam os indivíduos, assim interferindo em desdobramentos futuros. Portanto, o comportamento do homem seria uma variável dependente da posição dos astros. E a posição dos astros seria uma variável independente do comportamento do homem.

Em uma outra leitura, a posição dos astros seria uma variável exógena na explicação dos comportamentos humanos. Uma variável exógena é aquela que temos conhecimento do seu comportamento no futuro e que tem influência sobre, ou explica, o comportamento da nossa variável de interesse. Um sorveteiro consegue estimar suas vendas de picolés amanhã, tendo por base a previsão do tempo. A temperatura de amanhã ainda não se consolidou, mas conseguimos ter uma boa ideia de como será. Analogamente, como as posições futuras dos astros são sabidas, expectativas para o futuro do homem também seriam criadas.

Nota: este texto é uma releitura, do ponto de vista da análise preditiva e análise de séries temporais, de PredictionX: Pressários, Oráculos & Profecias, da Universidade de Harvard. Alguns trechos desse texto são transcrições e traduções livres da obra original.