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Análise preditiva: o que os Astecas nos ensinam?

A civilização Asteca, que floresceu no México nos séculos XIII e XIV, especialmente nas redondezas da morderna Cidade do México, também utilizava-se dos astros e outros sistemas preditivos para preveem o futuro. Os astecas acreditavam que em tempos anteriores à quinta era, na qual vivemos atualmente, os deuses obscureceram a habilidade humana de enxergarem o passado e o futuro de maneira clara, assim como os deuses o fazem. Lendas antigas dizem esse obscurecimento é como uma baforada no espelho, uma névoa que nos permite enxergar apenas o agora, apenas ao nosso redor. Os deuses fizeram isso por medo de que nós humanos soubéssemos tanto quanto os deuses o sabem. Muitas civilizações Ameríndias compartilham de crenças semelhantes.


Ambos Maias e Astecas acreditavam que algumas pessoas em suas sociedades possuíam relações mais próximas com os deuses e o domínio sobrenatural, assim com capacidade melhorada de se ter acesso a informações sobre o futuro ou a ouvir conselhos dos deuses. De fato, o aconselhamento no processo decisório e a visão do futuro se misturam até nos dias atuais nos campos da ciência da decisão. Quanto melhores os sistemas preditivos, também melhores tendem a ser as decisões a serem tomadas. Um investidor que sabe de antemão que uma empresa terá uma perda de imagem no futuro próximo, terá mais subsídios para lucrar com a informação, ou esperando sua desvalorização para fazer aportes menores no futuro, ou até mesmo apostando a favor da sua queda.


Tais pessoas com mais proximidade do divino, como os adivinhas, eram consultadas quando uma criança nascia, antes da sua nomeação, já que o nome de uma pessoa era baseado no dia do seu nascimento, que por sua vez era predeterminante de várias características da vida futura dessa pessoa. Assim, o momento do nascimento ditava tendências de vida que persistiriam até sua morte.


Complementarmente, os Astecas também acreditavam que eventos aleatórios também influenciavam o desenrolar de suas vidas. Eventos naturais estranhos, como a observações de um cometa, poderiam ser pontos de mudança (changepoints) em tendências sabidas até então. A observação de uma ave com um espelho na cabeça foi documentada como um presságio para a chegada dos europeus na região Asteca em 1519.


A realeza também se consultava antes de assuntos de estado, nesse caso com especialistas de alto nível, advindos das classes mais nobres. Em adição aos presságios, aos sonhos e ao calendário, tais especialistas e adivinhas lançavam mão de várias técnicas com estimulação externa para prognóstico, como ao se espalhar sementes em um pano e observar os padrões formados. Olhar os reflexos em superfícies reflexivas, como espelhos, pedras e água, a observações dos movimentos dos animais, e até mesmo a coloração da água eram indicativos de eventos futuros ou evidências para até mesmo o diagnóstico de doenças.


Assim como no mundo Maia, as observações dos corpos celestes por grandes períodos de tempo eram utilizadas para a previsão de eventos futuros ou para estimar quando eclipses e outros fenômenos astronômicos ocorreram. Sabendo-se de eventos sócio-políticos ou naturais que ocorreram em concomitância com tais fenômenos astronômicos, criava-se subsídios para se visualizar o futuro natural-político-social da nova ocorrência de tais eventos. Criava-se correlações e a criação de variáveis exógenas que ajudavam nas previsões. Tais observações do céu poderiam ainda evidenciar ciclos nos calendários.


Figura 2 - Capa do Codex Mendoza

A Figura 2 mostra a capa do Codex Mendoza, um codex criado por volta de 1542 por pintores indígenas, trabalhando em conjunto com espanhóis, para ser enviado e apresentado ao rei da Espanha. O nome do codex faz referência à Viceroy Mendoza, aquele que gerenciou o trabalho. A imagem mostra um centro cerimonial visto de cima, tais centros eram desenhados e construídos na tentativa de se replicar, em dimensões muito menores, o cosmos. Dentro das quatro linhas azuis, que representam o lago do México, está a cidade dividida em quatro partes, vemos todos os tipos de imagens representando a maneira como os Astecas tentavam entender o presente com relação ao passado, e como essa relação implicaria no futuro. Já no contorno da imagem vemos um calendário com 51 caixas, circundando todo centro cerimonial, significando que todo espaço e ações humanas ocorrem de acordo com um ciclo de 52 anos (ainda que fossem 51 caixas). Tais ciclos poderiam ser bons ou ruins, a depender de quão bem os Astecas conseguissem antecipar a passagem das estrelas de uma dada constelação pelos céus, na data de virada de um ciclo para o outro.


As previsões Astecas tentavam capturar elementos que hoje também modelamos em nossas tentativas de prever o futuro, como tendências, correlacionadas com variáveis externas, e ciclos, com duração definida mas impacto variável.


Nota: este texto é uma releitura, do ponto de vista da análise preditiva e análise de séries temporais, de PredictionX: Pressários, Oráculos & Profecias, da Universidade de Harvard. Alguns trechos desse texto são transcrições e traduções livres da obra original.


 
 
 

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